Agressividade e Síndrome de Asperger
M.J.Connor
O principal problema para os indivíduos que têm Síndrome de Asperger é que eles (as) podem se apresentar como inteiramente normais aos olhos de um observador externo, apesar da presença de problemas significantes na área social e da linguagem. A conseqüência disto é que se corre certo risco de se estabelecer expectativas inadequadas sobre esses indivíduos.
O trabalho de Simpson e Myles (1998) enfatiza esse ponto quando se refere à falta de compreensão acerca da Síndrome de Asperger e à tendência das intervenções se concentrarem em tentar mudar o indivíduo ao invés de reconhecer a natureza dos problemas associados à síndrome e de modificar as exigências e circunstâncias de acordo com elas.
Por exemplo, eles argumentam que as crianças e jovens diagnosticados com essa síndrome não são inerentemente inclinados à agressão ou à violência. No entanto, as dificuldades sociais podem muitas vezes levar à ansiedade, à frustração ou ao stress que, por sua vez, pode levar a comportamentos que pareçam agressivos. Diversas evidências têm demonstrado que o que pode parecer um comportamento agressivo é na verdade motivado pela necessidade de escapar de uma situação estressante.
Além disto, os autores citados nos lembram que as interações sociais de jovens com Síndrome de Asperger são notadas pela falta de reciprocidade, e as brincadeiras e jogos podem ser individualistas e pouco comuns. Como resultado disso, a pessoa talvez pareça estranha ou até provocativa e os outros jovens podem ficar irritados com alguns desses comportamentos como, por exemplo, a dificuldade em esperar a sua vez, a falta de compreensão das regras sociais, a agitação se o seu espaço pessoal for invadido e o visível egocentrismo.
Como resultado, um tipo de círculo vicioso é estabelecido onde o jovem se torna cada vez mais separado do grupo, continua a ter dificuldades em expressar como se sente e desenvolve sentimentos ainda maiores de stress ligado ao que aparenta ser uma falta de controle sobre situações desconfortáveis, até que atinge um ponto de crise.
Os sentimentos de stress e a perda de controle podem resultar em comportamentos que aparentam ser agressivos, mas que de fato refletem a dificuldade em funcionar em um mundo que parece ser imprevisível. Sendo assim, as estratégias apropriadas para lidar com episódios de comportamentos agressivos entre as crianças e jovens com Síndrome de Asperger não são provavelmente as mesmas apropriadas para as crianças e jovens com desenvolvimento normal. Em particular, recomenda-se não contar com o uso de punição ou castigos impostos ao individuo em questão.
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Ao invés disto, dever-se-ia tentar envolver os indivíduos na monitoração de seus próprios comportamentos e na seleção de opções apropriadas.
A prevenção de problemas de comportamento é o primeiro objetivo e a estrutura escolar mais apropriada incluirá instruções claras sobre o que constitui um comportamento social apropriado, modelos de comportamentos aceitáveis, oportunidades para planejar e ensaiar comportamentos aceitáveis, e dar um feedback descrevendo ambas as boas e as más performances.
Dada a preferência pela possibilidade de previsão e constância, se forneceria de uma maneira útil aos jovens envolvidos rotinas claras acompanhadas de avisos antecipados em caso de quaisquer alterações na rotina. Ao mesmo tempo, para minimizar a probabilidade de provocações ou intimidações da parte dos colegas de classe, seria de grande ajuda assegurar que esses sejam orientados quanto à natureza da síndrome de forma que os problemas peculiares à síndrome sejam reconhecidos e compreendidos.
Simpson e Myles (op. cit.) dão continuidade ao descrever uma série de opções de comportamentos que podem ser de grande suporte. Por exemplo, eles se referem à modificação cognitivo-comportamental que envolve ensinar o indivíduo a monitorar o seu comportamento e a usar o auto-reforçamento. O objetivo é ir transferindo o foco do controle para o gerenciamento do comportamento de parte dos professores ou de outros adultos para ele (a) mesmo(a). Eles narram o caso de um adolescente que achava ameaçadores o barulho e ‘atmosfera’ do vestiário antes e depois da aula de educação física. Ele foi treinado a ir para uma área quieta do vestiário ou do ginásio e fazer exercícios de respiração por alguns minutos e depois escolher um chuveiro e um lugar para se trocar que fossem relativamente quietos.
Acordos sobre comportamentos envolvendo os jovens, os professores e os pais podem ser úteis para especificar que comportamentos são inadequados, assim como as conseqüências caso esses comportamentos continuem.
No entanto, a ênfase é colocada nos resultados positivos de forma que um acordo para um indivíduo com Asperger, por exemplo, poderia determinar que ele (a) possa escolher algo diariamente de uma lista de reforçamentos quando não houver comportamento ameaçador em relação aos colegas.
Outras fontes mencionam a utilidade das ‘Estórias Sociais’ que prescrevem o que fazer em várias situações sociais. E roteiros sociais podem também ser usados a fim de enfatizar o comportamento desejado de modo que o estudante possa se lembrar sobre os acontecimentos do dia-a-dia na escola, reduzindo assim o imprevisível, e sobre os comportamentos apropriados em dadas circunstâncias.
Uma outra técnica descrita é a autópsia social que procura analisar os incidentes agressivos e que pode ajudar os jovens a desenvolverem uma compreensão sobre seus lapsos sociais com a intenção de evitar que esses se repitam. Até certo ponto, essa é uma questão de ensinar a ‘teoria da
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mente’ fazendo com que o individuo tenha algum insight sobre como certos comportamentos podem ser percebidos e interpretados pelos colegas.
Sabe-se que há um risco de haver certo jogo de forças entre os adultos que tem que lidar com indivíduos com Síndrome de Asperger e estes últimos. Novamente, o importante é intervir antes que os problemas escalem e se concentrar sobre o comportamento desejado sem muita discussão inicial sobre as conseqüências sociais dos comportamentos indesejados.
É importante lembrar também a necessidade de se usar uma linguagem clara e que não seja ambígua na hora de fornecer orientações e conselhos.
Finalmente é sublinhado o fato de que crianças e jovens com essa síndrome podem não ser capazes de entender or demonstrar suas próprias emoções, de forma que a aparência de um desinteresse peculiar ou calma pode na realidade refletir stress. E o objetivo principal para os professores ou pais é reconhecer quando o stress está sendo gerado para que se possa modificar a situação antes que o stress se torne crítico.
Texto traduzido por Teresa Pacchiega
Revisado por Jaqueline Schultz
Tenho asperger
ResponderExcluirJá quebrei mesas na sala de aula por estresse
muito tempo em um lugar cheio de pessoas me deixa tensa
Alguém, tenho um filho com Asperger e ele está extremamente agressivo. Como era sua vida escolar?
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